Anomalia Zero
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Impressões sobre "Kaze Tachinu"

Ir para baixo

Impressões sobre "Kaze Tachinu" Empty Impressões sobre "Kaze Tachinu"

Mensagem por Thear Ter 10 Nov 2020, 17:39

Cai novamente numa onda de atraso no meu Desafio de 10 Anos, mas estou tentando correr atrás. Para o começo de Novembro, assisti o anime longa metragem "Kaze Tachinu" (Vidas ao Vento, da Ghibli).


Impressões sobre "Kaze Tachinu" Kaze-t10


Kaze Tachinu é um longa metragem em anime de 2013, Miyazaki Hayao e produzido pelo Studio Ghibli. É um biografia ficcionalizada de Horikoshi Jirou, um engenheiro aeronáutico muito importante para o desempenho do Japão... na Segunda Guerra Mundial.

É... Vamos tirar as coisas fáceis do caminho primeiro. Eu amo o estilo de arte Ghibli, a qualidade de animação é ótima... O mundo vivo e colorido, os "sonhos" criativos invadindo a realidade do ponto de vista do protagonista. Tudo fabuloso.

Aparentemente suas opiniões sobre a guerra e sua carreira foram bem retratadas no filme, mas a vida pessoal do protagonista foi totalmente inventada e alterada, tendo pouquíssimas semelhanças com a realidade. Aparentemente essa parte da trama foi fortemente inspirada no livro japonês de 1937 chamado... Kaze Tachinu. Sim... o filme da Ghibli é uma mistura de biografia de um engenheiro com um romance totalmente não relacionado dos anos 30 que é centrado num sanatório de tuberculose. Me pergunto qual a necessidade dessa escolha?

Fica obvio após ver o filme: quase nada acontece nele. A dificuldade no que se refere a escrever filmes biográficos é que a vida real quase nunca segue uma estrutura narrativa interessante, uma "jornada do herói". Suponho que misturar com outra obra que se passa no mesmo período da animação seja uma forma de adicionar alguma estória à historia. Não foi totalmente bem sucedida... Mesmo com todo esse drama extra sobre o romance de Jirou e Naoko e a doença dela, ainda é um filme em que praticamente nada acontece, nem mesmo sob um ponto de vista introspectivo do protagonista.

Temos pequenos vislumbres do ponto de vista dele sobre a ideia do Japão entrar em guerra, mas nada detalhado, e mais nada sobre qualquer outra coisa do mundo. O filme passa a impressão que Jirou considera guerra algo negativo, e uma distração do verdadeiro progresso das tecnologias de aviação, mas passa a impressão (talvez incompleta) de que essa opinião negativa sobre guerra se baseia no sofrimento que isso possa trazer ao povo japonês, não em um ponto de vista realmente humanista ou opiniões anti-imperialistas firmes. Com um personagem nos anos 30 e 40, o filme da Ghibli acaba refletindo o estereotípico ponto de vista anti-guerra japones moderno, que atrai antipatia de antigos inimigos do país até hoje: "guerra é ruim porque se eu perder eu sofrerei, não porque invariavelmente gera sofrimento". Claro que o Jirou real provavelmente tinha opiniões mais complicadas e interessantes do que essa impressão que o filme passa, mas não vou me dar ao trabalho de ler uma biografia acadêmica do cara só para discutir o contraste.

Alias, algo curioso que me surpreendeu sobre o filme: o protagonista Horikoshi Jirou é dublado por Anno Hideaki, outro diretor de anime (e live action) muito renomado, inclusive por ter criado "Neon Genesis Evangelion". Anno e Miyazaki tem uma visão de mundo similar, pelo que ouço falar, e ambos parecem ter um fascínio com a história do Japão na Segunda Guerra.

Mas chegando às questões mais complicadas: quão adequado é fazer um filme biográfico homenageando um homem que ajudou a criar maquinas que contribuíram para o imperialismo japonês e seus crimes de guerra pela Ásia e Pacífico? É justo defender Jirou como "apenas um engenheiro"? Se a intenção era homenagear um gênio como um todo, porque toda a sua vida pós-guerra não apareceu no filme?

Sejamos honestos. O filme enaltece um homem que cria armas de guerra que foram usadas em imperialismo e genocídio. O homem talvez não se visse dessa forma; os roteiristas talvez não vejam o filme dessa forma, mas é literalmente o que ele é.

O filme é lindo e tem aquela vibe magica inconfundível da Ghibli, mas ao tratar como maravilhosas as contribuições de Horikoshi Jirou à aeronáutica e não discutir suas consequências terríveis, o filme deixa um gosto esquisito na boca. Sobraria espaço para essas discussões no filme se não tivesse encaixado uma trama de amor trágico não relacionada no meio.

Fico meio que sem saber o que pensar, no final. Não tenho opiniões totalmente formadas sobre as questões que esse filme não intencionalmente levanta. Só posso dizer que nada disso basta para me impedir de recomenda-lo: ainda conta como um bom filme Ghibli. Mas não esqueça quem é o "herói" da estória.


Trailer:


Thear
Thear
Admin

Mensagens : 586
Data de inscrição : 13/04/2015
Idade : 29

https://anomaliazero.forumeiros.com

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos