Impressões sobre "Half-Life 2: Episode Two"

Como parte do meu Desafio de 10 Anos, eu precisei jogar Half-Life 2: Episode Two em sua totalidade, esse mês, aqui vão minhas impressões.

Link para o jogo na steam.




Half-Life 2: Episode Two é um jogo FPS single player de 2007, desenvolvido pela Valve. É, junto de "Half-Life 2: Episode One" um jogo menor que continua diretamente os eventos do jogo principal Half-Life 2. Até o lançamento de "Alyx" esse ano (2020) era o ultimo lançamento da franquia, e conta com grandes ganchos e revelações no final que tornaram Half-Life 3 o provável jogo mais aguardado de todos os tempos.

Eu tive breves contatos com Half-Life 2: Deathmatch quando eu era criança, mas só fui começar a jogar os games principais da franquia uns 2 ou 3 anos atrás. Joguei o 1, o 2, o Episode One... e por qualquer motivo aleatório me distrai antes de jogar o Episode Two. Por isso acabei colocando ele na lista do desafio, em vez de correr atrás de jogar por conta própria. Por sorte foi sorteado relativamente cedo.

É obvio que os Episodes de Half-Life não atendem os critérios da Valve para serem considerados iterações genuínas da franquia, por isso são vendidos essencialmente como "expandalones" do Half-Life 2, e não como sequências de fato. A Valve gosta de usar a franquia para "provar tecnologias", e assim tentar influenciar drasticamente o mercado de jogos com uma coisa ou outra nova em cada Half-Life. O 1 e o 2 atendem facilmente esse conceito, mas os Episodes não são nada alem de extensões do 2. A franquia acabaria paralisada até 2020, quando Alyx seria lançado com aquela mesma velha intenção de provar o potencial de uma tecnologia nova.

Ainda assim, os Episodes se destacam em sua qualidade. Jogando o Episode Two eu fiquei surpreso com a qualidade do design de cenários, puzzles, e eventos de script do game. Eu não gosto de reduzir coisas novas em relação a coisas antigas, mas eu diria que poucos jogos atuais do mesmo gênero chegam perto da competência de Half-Life 2 nesses aspectos.

Isso é uma característica presente também nos jogos da série Portal, também da Valve e dos quais eu gosto ainda mais. A Valve tem uma capacidade de te fazer passar por tutoriais praticamente sem perceber, e ainda assim absorvendo tudo que eles estão ensinando. Esse é o tipo ideal de tutorial que um jogo deve usar sempre que possível, mas isso requer um esforço extra em design de jogo, mecânicas e fases que mesmo a maioria dos jogos de alto orçamento atuais não estão dispostos a fazer. Pelo contrário até: com orçamento abundante para dublagem e animações, os estúdios frequentemente preferem paralisar seu personagem para que você assista a algum tutorial enfadonho narrado detalhadamente por um NPC que esteja perto, enquanto a câmera voa pelo mapa esfregando na sua cara tudo que você deve ver.

Esses comentários podem passar a impressão errônea de que eu estou reclamando que tais jogos são muito fáceis ou algo assim, por explicar tudo diretamente ao jogador. Mas isso definitivamente não é o caso: Episode Two não é um jogo difícil, eu o venci com menos de 10 mortes na dificuldade média e não sou um grande jogador de FPS. Eu estou reclamando do fracasso em usar o "Show, don't tell".

"Show, don't tell" seria em português algo como "mostre, não conte". É um conceito muito disseminado em referência à escrita no geral na anglosfera. O conceito se refere a passar o que se deseja passar ao leitor/audiência através de outros métodos que deixem tais informações e ideias implícitas, e não pelo uso de dialogo expositivo por parte dos personagens ou descrição expositiva por parte do narrador. O resultado é uma experiência mais imersiva, e uma maior satisfação da audiência a medida que ela sente que esta compreendendo a obra por conta própria, sem o autor bancando o professor ao seu lado.

Apesar de que esse termo em específico não é tão usado em discussões de game design, a ideia que ele representa existe no meio, e cursos sobre o assunto vão frequentemente tocar no assunto em algum ponto. Todo jogo decente tenta usar "show, don't tell" em um nivel ou outro, mas fora do gênero puzzle é raro ver grande sucesso nisso, e jogos AAA mainstream são surpreendentemente fracos nesse aspecto.

Talvez por isso Half-Life e Portal façam tanta falta pra quem já jogou e suas continuações são demandadas como são. Estou tentando evitar pegar spoilers de Half-Life: Alyx, mas tudo que ouvi a respeito indica que a mesma qualidade marcante se mantem nesse novo jogo da franquia. Mal posso esperar para jogar... daqui a alguns anos, quando talvez  não custar mais meio ano de meu salário

Half-Life 2 é praticamente essencial de se jogar para entusiastas de games no geral, e os Episodes são incrementos importantes em cima do mesmo. Episode Two facilmente vale os 17 reais que custa na Steam... mas só se você ja jogou o jogo base e Episode One antes, claro, de outra forma não vale nada.