Um capítulo de cada vez.
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Um capítulo de cada vez.
Aqui será meu recanto de texto (bem e mal) feitos por mim. Não passarão de um capítulo.
Tomate- "Lerei"
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Chicotes
Chicotes
O lago ao seu lado fedia e parecia sujo. Alguma coisa dentro dela pedia para que se aproximasse para ver o que estava ali dentro, mas ela não queria se aproximar e então se levantou e começou a andar contra aquele lago. Nas suas costas, tinha uma floresta de pequenos arbustos que pareciam ser menos feios do que aquele lago, mas mesmo assim eram feios. Arbustos secos e sem vida, assim como o chão em que pisava. Decidiu que, se passasse por eles, talvez, encontraria alguém.
A passagem pelos arbustos rendeu-lhe um bocado de arranhões e os seus pés que estavam descalços ficaram feridos. Quando pensava em começar a chorar e gritar por ajuda, viu que os arbustos estavam ficando menores e uma trilha seca foi vista. Correu até lá e para sua surpresa, não tão legal e divertida, o lago se encontrava lá com uma floresta de arbustos atrás. Era como se tivesse andando em círculos.
Quis atravessar aquele novo lago mais longe de sua encosta possível e entrou novamente na floresta de arbustos. Mais arranhões. Agora, quando viu uma saída, correu o máximo que pôde pois era diferente. Existia grama agora e tinha certeza que aquilo a levava para um caminho diferente. Quanto mais corria, parecia que os arbustos a seguravam para ficar, mas não ficaria. Algo agarrou seu pé ou sentiu que algo agarrava. Quando saiu, novamente, da floresta seus pés sangravam mas caiu em uma grama fofa e verde com os olhos fechados. A sensação de vitória foi tão grande que comemorou com um grito.
Olhou para o sol, não ardia seus olhos e nem esquentava sua cabeça. Era quase um sol mágico. Gostava daquele sol mágico naquele lugar nenhum. Levantou-se e novamente viu o lago. Talvez, tivesse que passar por diversos arbustos para que o lago saísse dali, como aconteceu com o chão.
Quase chorando, entrou novamente na floresta de arbusto que dessa vez pareciam magistralmente maiores e pareciam mais árvores do que arbusto; mas com certeza eram coisas de sua cabeça. Passou de olho fechado e lentamente dessa vez, mas doía mais do que da última vez. Não sabia se delirava ou se estava acordada, mas sentia que os arbustos chicoteavam suas costas. A floresta acabou com a visão do lago e a menina quando viu mais uma vez o lago, colocou a cabeça entre as pernas e se arrebatou a chorar. Sentia o gosto de sangue misturado com lágrimas.
- Eu tenho tanto medo... – ela não disse aquilo, foi o lago. Nem sabia que tinha a capacidade de falar naquele momento – Por favor, pare.
Era como se o lago fosse a sua voz. O lago não parecia tão sujo daquela vez. Aproximou-se do lago e olhou para ele esperando alguma voz sair novamente. Pensou em falar algo, mas uma sombra surgiu ao seu lado e era uma versão dela; sem um pingo de sangue, como tinha acordado da primeira vez e com os cabelos cacheados limpos e bonitos.
- Está machucada o suficiente? – Perguntou o seu reflexo, com uma voz chorosa – Sabe por que sempre volta para esse lago, Camila? Vá até ele e tenha sua resposta.
Não queria olhar, mas assim que a sua sombra pediu, se aproximou até a superfície do lago e emergiu seus pés nele.
O lago ao encostar seus pés começou a cheirar pior. A água parecia lama pura misturada com óleo. Porém, a superfície refletia algo. Uma mulher que deveria ter seus sessenta e poucos anos e fazia atrocidades com ela, a judiava, a espancava e aconteciam coisas tão ruins que o lago parecia estar enchendo e tampando sua respiração. Não compreendia porque tinha que ver aquela senhora de idade fazer aquilo. Parecia que todas as dores voltavam. Até que uma dor em seu peito fez com que voltasse para a cena de um lago sem imagens nenhuma.
Saiu do lago com o peso nas costas parecendo que tinha sido submersa, cansada e com sede. Seu clone ainda olhava para ela, dessa vez com olhar de compreensão e pena.
- Por que passamos por aquilo? – Desta vez, não foi o clone ou o lago quem falou
A cópia riu. Gargalhou.
- Você viu coisas no lago, mas não deve ter visto seu reflexo. Veja com atenção.
E parecendo que o lago se transformava em um passe de mágica, não existiam mais imagens de uma senhora e sim do reflexo dela. Ficou com medo dela e tentou se defender, mas o reflexo no lago reagiu. O reflexo fazia as mesmas ações que ela. Colocou as mãos na bochecha e não tinha mais uma pele de uma garota escura, agora tinha uma pele enrugada e o reflexo a imitava.
A garota atrás de si sumiu. Agora, um homem encapuzado estava sentado na encosta do lago, com um cigarro na boca e com um semblante despreocupado.
– Olá, Camila. Agora está em sua versão de vida.
– Não, eu era uma garotinha até alguns momentos atrás... eu era...
– Bobagem. A garota foi apenas mais uma de suas vítimas, mas talvez a mais corajosa delas, devo admitir. Esfaquear você enquanto dormia mesmo sabendo que morreria para seus capangas...bem, você viu tudo no lago, não viu? Esse lago é fantástico, devo admitir.
Agora que olhava para sua pele sem vida e mais clara do que o sol, enrugada e com os cabelos que caiam até os ombros, mas tão quebradiços quanto uma folha de outono. Não estava entendendo porque tinha virado aquela senhora temível do lago.
– Não olhe para mim como se não entendesse. Você propagou ódio, cometeu o ódio e, confesso, foi quase o ódio em vida. Esse é o seu lago, se sentir sede, tomará dele. Aquela floresta, é sua amiga. – Se levantou calmo fumando a última parte do cigarro. – Achou mesmo que rezando iria para o céu? Bobagem! Pode rezar quantas vezes quiser, ninguém te escutará, não te escutaram antes, não escutarão agora, pode ter certeza.
Uma tontura tomou parte dela, tropeçou e caiu perto do lago. Parecia que tudo estava se encaixando em sua cabeça, não conseguia reagir a nada, a não ser olhar com pânico para o homem que agora jogava o cigarro apagado no lago.
– Que morra afogado em seu ódio, sinhá – A voz agora era da garotinha que estava até momentos antes, mas ainda no corpo do homem. Algum segundo depois sentiu seu coração sendo rasgado por uma lâmina. A respiração parou por dois segundos, tropeçou, bateu a cabeça e seus olhos fecharam.
Abriu os olhos. Preferia ter visto o inferno. O lago ainda estava ali.
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