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O que a filosofia e as artes tentam nos ensinar

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Mensagem por Ignatiy Qua 12 Out 2016, 21:48

O que a filosofia e as artes tentam nos ensinar

O conhecimento humano é baseado na atribuição de significados. É o método par excellence de fazer o mundo complexo e aterrorizante tornar-se mais familiar a nós - através de associações. No fundo o nosso esforço é tornar “digerível” o que é externo. Um paradoxo parece ter surgido no seio desse esforço o qual surgiu de forma natural, ingênua talvez, nos nossos antepassados hominídeos, que é o problema da ordem dos fatores: nós tornamos as coisas familiares a nós para adquirirmos conhecimento, ou adquirimos conhecimento para tornar as coisas familiares a nós? Digo, o que nos move é o saber, ou o que nos move é o conforto – onde está nossa fronteira?

Essa pergunta que agora reformulo nesse texto não é contemporânea, mas me assombra perceber como a sociedade tem fugido do dilema, simplesmente ignorando-o. Infelizmente, nesse caso, fugir da perguntar é se associar a um dos lados. Fortuitamente, por outro lado, como a maioria dos problemas contemporâneos, nós podemos nos apoiar no ombro de gigantes para resolvê-los – novamente, isso para aqueles que querem de fato resolvê-los.

Antes, quero fazer uma digressão insolente. Quero lhes contar porque acredito que o conhecimento – metafísico em especial - humano pode ter iniciado de forma ingênua. Há um tempo me flagrei imaginando como se deram os primeiros esforços no sentido do autoconhecimento humano. Tentava sentir o que os nossos ancestrais sentiam ao marcar o formato de suas mãos em cavernas. Eu que, do ponto onde partia, vislumbrava um poço obscuro e amargo de niilismo existencial como o inevitável desenrolar desses esforços – o que já não é mais a minha crença, pelo menos não com esses adjetivos; eu me questionava se os meus ascendentes, muito menos versados em filosofia e assimiladores em formação, não teriam um sentimento ainda muito mais desgostoso em relação à existência. Meu exercício de empatia me levou a concluir que esse esforço deve ter se dado não nos cenários assustadores de Matrix ou similares relacionados com o mito da caverna; que a percepção da existência não seria traumatizante. Na verdade, estaria bem mais próximo da forma como os bebês atravessam o mesmo processo de autoconhecimento – surge como uma curiosidade, um insight turvo e despretensioso. E assim eu ouso pensar, estendendo as implicações, que toda a trajetória do conhecimento humano não tenha começado com a busca maçante e predatória por conforto frente à natureza selvagem e sombria; que o objetivo inicial era o próprio conhecimento, por conhecimento.

Mais hipóteses desse tipo podem ser feitas com base na teoria de Rousseau sobre a índole do homem. Consideremos que o homem ego-narcisista seja um produto de sua formação social. Nesse caso, a aparente inclinação moderna do homem pelas ideias que confortam poderia ser tomada como uma forma de se destacar, se achar melhor que outros por “compreender melhor”, “ser dono da verdade”. Também cabe citar uma rápida passagem de Gleiser em seu livro Criação Imperfeita: “O homem tende a achar que o que é belo é verdadeiro”, como sendo causa da desvirtuação da busca pelo conhecimento, mas disso devo tratar em outro texto.

O julgamento que faço é, como já adiantei, que grande parte das massas buscam conhecimento pelo conforto, de modo que facilmente se apagam a ideias falsas em nome desse. Se você se questiona se isso pode ser ou não um problema, pense, por exemplo, no fenômeno do nazismo e diga-me se são coisas dissociáveis. E de tal sorte são vários os pensadores que perceberam isso que me tornei motivado a vir revisar alguns deles aqui para reforçar meu ponto, e tentar demonstrar um ponto de convergência entre suas obras em sua essência.

A começar, Sócrates. Sócrates foi um homem pioneiro ao assumir sua ignorância como uma forma de conhecimento. Sua máxima “só sei que nada sei” veio contextualizada: visitando vários senhores eminentes de seu tempo, ficou abismado com o modo com que fingiam ter conhecimento de coisas sobre as quais, de fato, eram ignorantes – não são muitos que assim se comportam hoje? Ou todos os esbravejantes partidários de uma causa analisaram-na a fundo, procuram conhecer vários pontos de vista sobre o tema etc.? Não só essa mensagem trouxe Sócrates em seu julgamento final, mas também a denúncia sobre a injustiça contida na sua acusação: era acusado de corromper a juventude, por incitar-lhes ideias diferentes e promover outros pontos de vista – e não são muitos que hoje são acusados de corromper a juventude? Não é esse o discurso contra os professores de história, filosofia e sociologia? E nem preciso cita o mito da caverna, onde esse tema é basilar.

O mesmo tema é centro de discussão de suma importância no seio da filosofia, que definiu escolas com diferentes respostas para o mesmo problema: como podemos conhecer a verdade? Destaco Descartes, com sua primazia pela dúvida e pelo revisionismo do conhecimento acumulado, e Kant, pela sua louvável defesa ao Esclarecimento, ao pensamento autônomo. São eles gigantes ao afirmar a importância da dedicação ao conhecimento em si, não aos pensamentos confortáveis, que perverteriam a busca pela verdade. Entre os filósofos vemos também Gramsci com a perspectiva histórica do conhecimento, Popper, com a definição de ciência, Sartre com a ideia de sentido arbitrário a existência, Nietzche etc – todos discutindo, de certa forma, a validade do conhecimento. Não seria esse o pano de fundo por trás de todos os filósofos?

Voltaire é autor de Cândido ou Otimismo, e é a partir desse texto que primeiro quero comentar sobre o papel da arte na denúncia do problema. Nessa obra, o autor narra uma sequência crescente de absurdos com o intuito de insinuar que, mesmo nas mais catastróficas situações, o homem ainda consegue acreditar que vive “no melhor dos mundos”, por ceder à demagogia, mostrando como somos capazes de ignorar o mundo a nossa volta – e não é assim que se comportam fanáticos de várias sorte, entre religiosos, ativistas políticos e até torcedores de futebol? A Voltaire se atribui frases como:
“Judge of a man by his questions rather than by his answers.” (“Julgue um homem por suas perguntas, não por suas respostas”)
“Those who can make you believe absurdities can make you commit atrocities.” (“Aqueles que podem fazer você acreditar em absurdos podem fazer você cometer atrocidades”)
“Think for yourselves and let others enjoy the privilege to do so, too.” (“Pense por si mesmos e permita que os outros gozem do privilégio de fazê-lo também”)

Outra obra que aborda com ênfase esse tema de conhecer para além da zona de conforto é Discurso da servidão voluntária, de Étienne de La Boétie. Na verdade a tese que trago aqui é bem mais ambiciosa: a literatura em geral traz a capacidade de perceber a realidade sobre novas perspectivas. E assim também é a música, a pintura etc. Na arte, somos guiados a contemplar um enfoque bem diferente do que tomaríamos se víssemos uma situação de forma ordinária.

O paradoxo sobre o que nos leva a conhecer traz a notável repercussão da importância de se conhecer a verdade. Desde o mito da caverna até os contemporâneos, são vários os filósofos e artistas que lidam com essa pergunta. São muitos também os indivíduos que preferem inflar o peito e vomitar opiniões enviesadas em favor de sua posição e cegar-se a problemática, ignorando o esforço milenar daqueles.
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Mensagem por Thear Qui 13 Out 2016, 06:18

Por que alguém faria algo apenas em nome do conhecimento? Como poderia o conhecimento ser o objetivo final? 
"Conforto" pode não ser a palavra ideal para descrever o objetivo, mas vou usa-la por hora já que não vem nada melhor a mente.
Por que algum humano daria um minimo de importância para conhecimento se não para aproveitar da aventura de busca-lo, da satisfação de encontra-lo, ou do conforto de possui-lo? Conhecimento é um conceito humano, e não teria nenhum valor se não nos fosse útil. 

Todo o avanço da civilização humana se baseia na busca pelo "conforto". 

- Um homem das cavernas curioso mexeu com fogo ate domina-lo, porque a experiencia era divertida, e o resultado acabou lhe dando uma sensação de conquista sobre um desafio. 
- Um inventor moderno busca soluções para problemas com a intenção de conseguir dinheiro (assim podendo comprar mais conforto), ou fama (assim satisfazendo o ego), ou solucionar/prevenir um certo problema (assim removendo obstáculos para o conforto das pessoas ou aumentando o tempo que elas tem para se sentirem confortáveis). 
- Um artista se expressa pelo seu próprio equilíbrio emocional, ou transmissão de uma ideia, ou o desafio, ou o dinheiro, ou a fama, ou o combate ao tédio (desconforto). 
-  Um pedreiro constrói um prédio por dinheiro e talvez goste desse trabalho por um motivo ou outro. Dinheiro que ele pode usar para comprar mais conforto ou prevenir desconforto (fome; doença). Seu trabalho é necessário a quem lhe contrata porque, uma vez pronto, aquele prédio pode prover mais conforto a várias pessoas ou facilitar-lhes alcançar o conforto.
- Um cientista tem uma curiosidade a satisfazer, ou um desafio pessoal a dominar, ou uma crise social para solucionar, ou um avanço para a civilização. Todas as opções lhe trarão prazer pessoal, ou prazer para outros, o que por sua vez lhe traria prazer. 

Se conhecimento fosse incapaz de melhorar nossas vidas (ou pelo menos um dia, ou uma hora, ou um minuto delas), não teria nenhum valor. A curiosidade e a valorização das recompensas trazidas por ela são características que ganhamos com a evolução, e tinham originalmente como função nos garantir mais oportunidades de ter momentos agradáveis ou uma vida agradável, e assim podermos nos reproduzir mais e melhor. Não estou dizendo que devemos nos prender à nossas origens, mas não vejo como desconsidera-las ao discutir o motivo de fazermos qualquer coisa que fazemos.

E não há demérito em nada disso. Se a ignorância agrada a tantos é porque a curiosidade não lhes foi devidamente incentivada. Se a desinformação satisfaz a tantos é porque não foram preparados para lidar com ela. Nada disso é culpa de nosso desejo pelo prazer, pela tranquilidade, "conforto". 
A humanidade inevitavelmente caminha numa direção que garante o maior conforto possível para o maior número de nós possível. O acumulo de conhecimento é central nesse processo, e cada individuo envolvido é motivado pelo conforto, a curto ou longo prazo.
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Mensagem por Ignatiy Qui 13 Out 2016, 13:25

De fato, Basara, a relação de causa e efeito é delicada, como já adiantei. Entretanto minha crítica se da não ao conforto como curiosidade, não acho que o termo se aplique aqui,  pelo menos não da forma como o dispus. E nesse sentido eu pretendo insinuar que a curiosidade seria um mecanismo natural de recompensa pela busca do conhecimento, em si, adiantando uma possível resposta a sua pergunta inicial. O que afirmo também é que nem sempre o conhecimento traz conforto. É justamente a mensagem do mito da caverna. E aqui devo insistir que fomentar essa ignorância é sim um forte desmerito, e aliás é o tema axiomático desse texto, tanto que se eu não consegui te convencer disso precisaria fazer um ainda maior, provavelmente dissecando as obras, porque a tese é que a mensagem da filosofia e das artes é essa - a ignorancia sistemática é um problema crucial.

Sobre as motivações, veja. Enquanto estudante de economia não pude deixar de lembrar de diversos textos contrariando a noção de que a busca por satisfação através do dinheiro é atemporal - a tese smithiana, clássica. Mas não quero entrar no mérito desse debate polêmico porque é longo, mas vou usar um argumento de cunho associável . Então para responder porque o homem buscaria o conhecimento pelo conhecimento, prefiro trabalhar com a idéia de axioma. Veja, não é verdade que a teoria clássica da economia prevê que se todos agirem de forma individualista a sociedade como um todo será beneficiada? E que se os indivíduos trabalhassem para a coletividade, toda a sociedade seria prejudicada? E por isso o homem deveria buscar lucro, sendo o benefício social uma externalidade ao seu comportamento? Então assim eu creio que seria o comportamento humano, em termos de uma tendência natural a conhecer. Basicamente eu quero dizer que quando alguém busca saciar uma curiosidade, não necessariamente pensa em estar em uma situação mais confortável, mas que, como em geral esse proceder implicava em tal conforto, o comportamento curioso foi fomentado naturalmente, enquanto o conforto seria uma externalidade pra sua ação. Entretanto essa discussão só é relevante quando um não implica o outro em principio - apenas, e talvez, a longo prazo, como você comentou -, pois nesse caso poder-se-ia escolher pelo conforto imediato, ou pelo conhecimento que dubitavelmente poderá trazer benefícios. Assim nesse caso dever-se-ia escolher o conhecimento, e esse é o "núcleo duro" da minha tese, para citar Thomas Kahn, todo o resto insinuado sendo hipótesea auxiliares.

Estou escrevendo pelo celular, desculpe a falta de clareza que eu possa ter apresentado aqui, a relação palavras/tempo é muito pequena e desanimadora.
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Mensagem por Thear Qui 13 Out 2016, 15:50

Só pra constar, meus exemplos envolvendo dinheiro foram apenas menções de motivações em potencial que alguém possa ter pra fazer isso ou aquilo, não uma insinuação que o dinheiro sempre é ou sempre foi uma motivação. Acredito no contrário ate, quando se trata de arte e ciência. 

Eu também não entendi qual exatamente é a relação da teoria clássica da economia com o assunto. Vale comentar que eu acredito que essa ideia ignora todos os esforços pela coletividade que facilitaram os esforços pessoais dos indivíduos. 

Não importa se a pessoa pensa em buscar uma situação mais confortável ao tentar saciar a curiosidade, é literalmente o que ela esta fazendo. A curiosidade é como uma coceira e sacia-la é agradável, ignora-la incomoda. É sim uma busca por conforto e não vejo como desconectar as coisas. 

Nossa discordância se mantem por esse fato. Exceto talvez por cenários específicos envolvendo conhecimentos específicos e/ou tipos específicos de conforto, não vejo como a busca por conhecimento pode não ser uma busca por conforto/prazer/qualquer-palavra-que-queira-usar.
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Mensagem por Ignatiy Qui 13 Out 2016, 20:57

Eu compreendo e assumo grande parte da sua dúvida. A parte da teoria clássica da economia foi apenas uma forma de analogia a um comportamento axiomático.

Exceto talvez por cenários específicos envolvendo conhecimentos específicos e/ou tipos específicos de conforto, não vejo como a busca por conhecimento pode não ser uma busca por conforto/prazer/qualquer-palavra-que-queira-usar.

Ao mesmo tempo em que estou tratando de casos específicos, penso que eles sejam na verdade muito vulgares para assim rotulá-los. Digo, Basara, e aqui somente repetirei o mesmo argumento, que muitas pessoas preferem se colocar como "donas da verdade" do que buscar a verdade de fato, e então a nossa discordância é muito mais abrupta do que parece ser. Assim, essa situação é para elas mais confortável do que a verdade em si. A curiosidade é subestimada em nome do ego. E, novamente, tomo como exemplo disso os mais diversos fanatismos, entre eles o nazismo, e mesmo situações mais triviais, como pessoas que se esforçam a crer na astrologia por ser um cenário bastante agradável e romântico até. Aqui recoloco a máxima "O homem tende a achar que o que é belo é verdadeiro", e achar a beleza nas coisas é a situação que denomino conforto, mas usei também "familiarização". Pessoalmente estendo essa crítica a diversas religiões, mas a crítica é muito mais profunda. Talvez eu não tenha sido eficiente ao não destacar essas partes no texto, que no final das contas eram em essência o que eu tinha para expor.
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Mensagem por Thear Qui 13 Out 2016, 22:06

Sim, eu entendi isso no seu texto original, entendi o que quis dizer. O penúltimo paragrafo da minha resposta original ("E não há demérito em nada disso...") trata desse aspecto do seu texto.

Eu simplesmente não concordo que os casos de "donos da verdade" sejam na base uma negação ao conhecimento em nome do conforto, mas sim uma ilusão de que já possuem todo o conhecimento que precisam. Portanto eles já estão tão confortáveis quanto pretendem estar, e se sentem desconfortáveis confrontados com conhecimento que eles pensam ser farsas/erros/etc. E eles não tiveram seu senso critico treinado o bastante pra sair disso. 

Mas... é verdade, existem pessoas que não se interessam por buscar conhecimento mesmo quando não estão cegados por algum conjunto de ideias. Também mencionei isso no parágrafo mencionado. A educação escolar e os país arrancam a curiosidade da maioria das crianças ou no minimo a diminuem drasticamente. Mas eu também não vejo como isso interfere na discussão sobre a motivação de buscar o conhecimento (conforto ou o conhecimento em si). Eu considero que toda busca por conhecimento é motivada por um desejo por algum conforto, mas nem todo o conforto vem do conhecimento. Muito dele não vem. Então o fato de que nem todas as pessoas buscam conhecimento não interfere na ideia principal da qual discordei contigo.
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Mensagem por Ignatiy Sáb 15 Out 2016, 20:00

Pois então, o que tento argumentar é que uma das grandes missões da filosofia e das artes é justamente mostrar que devemos estar sempre buscando mais conhecimento, ainda que nos sintamos confortáveis com o que já temos...
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Mensagem por Thear Seg 17 Out 2016, 02:36

É, ok. Com essa parte eu no geral concordo. Eu acho sim que a arte (me refiro aqui ao conjunto de todas as formas e obras), tenha e deva ter como uma de suas funções nos inspirar a ser melhores.
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Mensagem por Malkuth Qui 20 Out 2016, 20:15

"Assim, essa situação é para elas mais confortável do que a verdade em si."

Defina "verdade em si". Não existe verdade, amigo. Entretanto, devo admitir que o que tu afirma, concernente ao comodismo subordinado pelo ego é algo puramente real, e socialmente desprezível; embora eu igualmente creio que este seja um campo subjetivo - algo além disso é utópico. E ainda, "o pensamento precede o desejo", é natural que quem não faz o menor esforço para pensar ou se inclina a um único pensamento se torne em algum momento, um imbecil. O fato é: Não cabe a mim definir o que é bom para o outro e vice-versa. Este é um problema incomensurável, tu mesmo disse que todo o mundo quer ser o dono da verdade, e isto é completamente verdade. Todavia, particularmente, ao mesmo momento tu se contradiz querendo estipular um limite para a realidade. "...e mesmo situações mais triviais, como pessoas que se esforçam a crer na astrologia por ser um cenário bastante agradável e romântico até."
O fenômeno astrológico por exemplo, não é alicerçado em "romantismo" tampouco comodismo. Para entender a astrologia é preciso primeiramente estudá-la, estudá-la da forma proposta por ti neste venerável tópico: o mais sinceramente possível. Vejo por aí que, a maioria dos pseudo-céticos ou cientistas que a refutam usam na maioria das vezes falácias do espantalho, os mais retardados por exemplo, acham que o geocentrismo é dado num sentido literal, o que não é substancialmente verdade - Giordano Bruno que o diga, aliás, o próprio Kepler, que calculou as órbitas heliocêntricas dos planetas, continuou a desenhar horóscopos geocentricamente até o fim dos seus dias -, outros, acham que tem alguma coisa relacionada com constelações o que também não é verdade, haja visto que as doze casas são produtos dos quatros elementos alquímicos e as três qualidades cardinal, mutável e fixo. Pesquisas não faltaram também, procure, se lhe interessar, as pesquisas de Michel Gauquelin. Bem, é desnecessário falar o resto. O ponto que quero chegar é, como eu posso refutar uma coisa que eu desconheço completamente? Ora, isto é impossível. O indiscutível é: Todas as teorias tem algo de verdadeiro; erram quando negam. Porquê? Por que toda teoria é baseada numa observação e vice-versa, agora, o que pode acontecer é, a observação poder ser válida embora não os meios que lhe verifiquem. Por exemplo, usando a própria astrologia, os esquisotéricos e os pseudo-mestres-de-qualquer-coisa, dizem que o fenômeno é um subproduto da influencia dos astros, o que é uma loucura descomunal. A astrologia só é concebível ou factível, se partirmos do ponto em que o Universo não é um Caos. Regido pela terceira lei natural observada por Newton, que aliás, era um cabalista estudioso do Sepher Yetzirah e venerável alquimista.

Aliás, concordo plenamente: "Pois então, o que tento argumentar é que uma das grandes missões da filosofia e das artes é justamente mostrar que devemos estar sempre buscando mais conhecimento, ainda que nos sintamos confortáveis com o que já temos..." Ou seja: "Nada é verdade, tudo é permitido.", "Faça o que tu queres, será o todo da lei." As duas frases significam não se prender a um único sistema de crença ou não ser um fantoche de seus professores fanáticos por Che Guevara, um assassino; nem tampouco, se prender ao pastor estuprador ou à quimera cristã denominada Jesus.

"Não creio ser um homem que saiba. Tenho sido sempre um homem que busca, mas já agora não busco mais nas estrelas e nos livros: começo a ouvir os ensinamentos que meu sangue murmura em mim." — Demian; Hermann Hesse.
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Mensagem por Gast.o Sex 13 Abr 2018, 20:52

Penso que nem a filosofia ou a arte tem como objetivo alcançar o conhecimento. Aqui proponho uma separação entre o conhecimento e a sabedoria, a sabedoria seria ter desenvoltura e paz de espírito para lidar com as diversas situações que se apresentem na vida: Dilemas existenciais, sociais, enfrentar a realidade e procurar por maneiras de lidar com a insatisfação. Nesse sentido a filosofia, amor a sabedoria, seria a paixão que teríamos por um estado imaginário onde não enfrentaríamos mais problemas, estaríamos sempre bem com a própria consciência e certamente não erraríamos mais. Esse amor é platônico, porque não existe um realização concreta que possa comprovar que se atingiu essa estágio.
Por isso Sócrates afirma " Só sei que nada sei.". Acredito que essa é a única certeza possível.
Mas na busca de uma comprovação ter conhecimento é um título, benéfico como meio, mas não como fim, a ideia de ser culto ou inteligente. Os inteligentes precisam saber, precisam comprovar o que sabem e precisam ser reconhecidos. E por isso, há  certo egoísmo aqui, porque historicamente, isso gera uma separação da sociedade entre os que sabem de alguma coisa e os não sabem.
Gera um sentimento de superioridade e inferioridade, gera falsos sábios.
Por isso a separação entre conhecimento e sabedoria é necessária, a sabedoria une e o conhecimento separa. É necessário sim ter conhecimento para refinar a sabedoria, mas não para adquiri-la. A sabedoria, no meu entendimento, seria a habilidade de se adequar diante das circunstâncias da vida e conseguir perceber que no final os sentidos que inventamos para as coisas dependem de pontos de vista, de nossa subjetividade e que não há uma verdade absoluta. Mas não só no plano mental, isto é, não só saber disso, mas viver isso. Ser psicologicamente e emocionalmente tão forte a ponto de não se chocar com as diferenças de visão.
Então o mito da caverna de Platão, interpretação livre, representa justamente o momento que alguém pergunta a si mesmo: Pra que serve isso? Ou, porque eu penso assim? Ou ainda, porque tem que ser assim? Por que dependo tanto dessa certeza?
Já a arte arte é uma expressão subjetiva, ela pode ter pretensões como discutir a realidade, problematizar os dilemas da existência, a moral, etc. Mas antes de tudo ela é expressão e sua finalidade é o prazer, é a realização pessoal do artista em poder fazer e  ter sua obra reconhecida. A arte é mais egoísta, ela é fingimento.
Como a arte é uma expressão subjetiva e não tem a ideia original de ser verdade, ainda que possa ser realizada para ter este efeito de sentido, é possível através dela implantar a dúvida e através dela questionar o mundo, questionar a si mesmo, questionar os valores, reforçar ou enfraquecer ideias, perceber  ideologias. A Arte denuncia que vestimos máscaras, títulos, ideologias para disfarçar o vazio de uma só verdade.

O conforto que na verdade procuramos seria a lógica da vida, que não existe. Eu acredito pessoalmente que o objetivo da própria existência não é explicar a existência de tudo, os filósofos gregos tentaram criar razões, a ciência ainda tenta, porém a razão de existir seria convencer a si mesmo de que a própria vida não precisa ter um significado. Nós damos significado as coisas porque queremos.
Tentamos lidar com nosso egoísmo para viver em sociedade, mas a verdade é que só queremos ser aceitos por nós mesmos, só queremos descobrir uma maneira de convencer-nos de que nossa existência importa e o grande dilema da vida é que dependemos necessariamente do reconhecimento alheio, porque a nossa consciência sozinha não permite isso. Somos frágeis.

É claro que é só um ponto de vista.
Como eu disse anteriormente, não existe uma só verdade. A verdade é pessoal e mutável a cada nova descoberta, a cada nova perspectiva de vida. Ela muda com o passar do tempo, com o amadurecimento interno.
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