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"NEGAÇÃO": Opinião, fato e memória histórica

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Mensagem por Zé Joelho Sex 05 Jan 2018, 21:56

“NEGAÇÃO”

Hoje não estou trazendo uma avaliação de filme e sim uma discussão à luz do nosso querido ano passado 2017. Falarei bem de leve o que acho do filme em si, com algumas informações para um melhor entendimento da proposta e nada mais. É bom assistir o filme em questão para que não estrague sua experiência em nenhum ponto, porém para a discussão em si é apenas um exemplo.
“Negação” é um filme lançado em março de 2017 que trata, basicamente, de um movimento que existiu nos anos 90 (e ainda hoje você pode encontrar grupos semelhantes) constituído de negacionistas. Termo específico para pessoas que Negavam A Ocorrência do Holocausto pelos Nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. É um bom filme que é o que se propõe ser: uma exposição de um fato praticamente absurdo para nós do século XXI para causar um debate sobre a atual situação de liberdade de expressão, verdade e, um dos pontos mais importantes talvez, a crítica.

O filme apresenta um escritor de livros sobre o Holocausto, um negacionista. Não era formado em história e a academia o desprezava, mas esse não é o ponto. O homem era um agitador social. Provocava conspirações, revoltas e indagações direcionadas, não a reflexão geral acerca do mundo a sua volta, ele conduzia massas, mirava sua energia para os questionamentos que levantava. Em contrapartida havia uma professora de faculdade judia que lecionava justamente sobre o Nazismo e o holocausto. Ele a processa por calúnia basicamente para chamar atenção a sua causa na mídia e por aí vai.

A obra foca na defesa dela sobre o fato da ocorrência do holocausto de fato, a inversão de valores do processo em si e, em menor foco, as reações da sociedade tanto empáticas quanto críticas. Quem já assistiu a série sobre o julgamento de O.J. Simpson saberá o que estou falando, quem não assistiu um exemplo: só pela mulher ser solteira, queria aparecer; por ser judia, estava de vitimismo e assim vai.

Só do texto até aqui já dá pra ver muito dos tempos de hoje. As polarizações, a ignorância, falta de empatia, uma certa preguiça social que leva à agentes de manobra e agitadores sociais. Mas entenda:

Os próprios soldados Nazistas, tirando os oficiais e alguns soldados rasos que trabalhavam nos campos de concentração, não faziam muita ideia do que estava ocorrendo. Porém há algo mais importante nisso: Eles apenas acreditavam no que era os dito sobre o que, como e porque as coisas aconteciam como aconteciam. É um fenômeno explicado em um vídeo do Nerdologia que deixarei ao final da postagem*. Onde quero chegar é que: Sendo você um soldado nazista ou um cidadão alemão é difícil você apenas aceitar o que o país que você vive, que compartilha cultura e se identifica, causou à outras pessoas e com tamanha gravidade.

O Antissemitismo era algo mais escrachado, mas os campos de concentração em si não, era algo perto de uma operação secreta. Faziam-se vídeos propaganda do Estado do III Reich sobre como os judeus, mesmo sendo o problema do mundo, eram isolados e super bem tratados em “guetos” longe de lugares que poderiam fazer algum mal. A negação nesse caso é algo comum e até compreensível. Para o resto do mundo fora um exemplo claro de preconceito religioso, racista e supremacista. Ainda mais na época em que ocorreu onde tais ideias de fato estavam tramitando pelo globo – em universidades e no cotidiano.

Em um tempo que era mais difícil de ser ter acesso a informações claras e completas (hoje em dia ainda dá para acobertar certos eventos) algo de tamanha proporção, crueldade e violência era logo posto em dúvida. O problema é que o filme aborda a negação do fato quase 50 anos depois, com estudos, documentos e provas do fato, tudo com uma ainda maior facilidade de acesso, e a força que a negação por meio de teorias de conspiração, defesas de liberdade de opinião e de expressão ganhou. Mais de 20 anos depois do processo que o filme retrata, hoje em dia, e toda a questão se repete:

Temos acesso a informação. Temos acesso a diversas fontes e argumentos. Mesmo depois de anos ainda há quem defenda estátuas de escravistas do Sul dos Estados Unidos, a liberdade de expressão para NeoNazistas e a opinião de “influenciadores” ao estudo e reflexão próprios.

Encerrarei o texto por aqui para abrir a discussão a todos.
Assistam o filme também, é bacana.

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Mensagem por Thear Sex 05 Jan 2018, 22:56

Vou começar com duas recomendações. A primeira delas é o filme Experimenter, sobre Stanley Milgram (mencionado no vídeo do nerdologia). Sobre o qual eu falo nesse tópico.
A segunda é o filme alemão "Die Welle" ("A Onda"), que adapta eventos reais e estuda justamente a ideia de "será que aconteceria de novo?". É sobre um professor que simulou uma ditadura com seus alunos como um experimento, e a coisa logo saiu do controle. Página do filme no IMDB.



No geral, as pessoas realmente:
A) Querem suspeitar de autoridades acadêmicas e pensar que conhecem alguma grande verdade que os demais não conhecem.

B) Vão selecionar quaisquer informações que acharem pra reforçar a crença numa teoria de conspiração. Vão confiar completamente em qualquer coisa que apareça que minimamente apoie a teoria, e vão descartar coisas opostas como simplesmente outra mentira.

C) As redes socais prenderam as pessoas em bolhas. É provavelmente o maior motivo de teorias de conspiração (ate mesmo terraplanismo!), noticias falsas e polarização politica estarem se proliferando em plena ERA DA INFORMAÇÃO. As redes sociais selecionam o que você vê baseado no que sabem que você vai gostar e nos seus círculos sociais, assim garantindo que cada um receba um constante fluxo de posts e links que apenas reforcem os próprios vieses.
O pior é que esse é um tipo de problema que eu não sei bem como resolver... A melhor maneira seria através do sistema de educação (criar crianças que viriam a não se prender em bolhas tão facilmente), mas isso pode ser lento demais e ate la as pessoas "embolhadas" já podem ter feito um imenso estrago no sistema democrático. Outra opção seria as redes sociais pararem de embolhar as pessoas, mas não tenho muitas expectativas pra isso, é o modelo de negocio delas, afinal.


Hmm. Já repararam no quanto as pessoas gostam de negar o genocídio rohingya, que esta acontecendo nesse exato momento?


Última edição por Thear em Sex 05 Jan 2018, 23:03, editado 1 vez(es) (Motivo da edição : Lembrei dos rohingyas)
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Mensagem por Zé Joelho Sex 05 Jan 2018, 23:14

Thear escreveu:Vou começar com duas recomendações. A primeira delas é o filme Experimenter, sobre Stanley Milgram (mencionado no vídeo do nerdologia). Sobre o qual eu falo nesse tópico.
A segunda é o filme alemão "Die Welle" ("A Onda")

"Die Welle" é muito bom. Recomendo também. O outro eu não conhecia e irei assistir!


Thear escreveu:No geral, as pessoas realmente:
A) Querem suspeitar de autoridades acadêmicas e pensar que conhecem alguma grande verdade que os demais não conhecem.

Há um debate já antigo de Kant e outros filósofos que não tenho em minha cachola sobre a autoridade sobre a informação. Kant dividiu as categorias do conhecimento e basicamente disse "cada um com sua área de saber e o resto não se meta". Um Economista seria o único que devia ser ouvido e levado em conta quanto a questões de Economia pois o mesmo estudou e passou por uma instituição com tradição e meios para testar seus conhecimentos de acordo com os conhecimentos reunidos pela sociedade.

O que é debatido é até onde. Há questões que são complexas e acabam por abranger áreas humanas, artisticas e economicas, por exemplo, e deixar uma pessoa especializada em apenas uma área para decidir como agir ou entender tal questão é complicado. No meu entendimento esse debate existe até hoje. Não há uma segurança no saber do especializado ou na capacidade do(a) mesmo(a) de lidar com algo que aparentemente (ou não) fuja a sua alçada.

Na minha opinião sempre chegará uma hora que uma decisão terá de ser tomada - muitas vezes no meio político - e uma conversa de especialistas de diversas áreas para chegar-se a um consenso é a melhor opção com maior possibilidades de se acertar, pois, como qualquer decisão tomada, pode ser errada. O maior problema é que as pessoas querem ser especialistas em tudo; ou elas não querem ser vistas como ignorantes em algo.


Thear escreveu:B) Vão selecionar quaisquer informações que acharem pra reforçar a crença numa teoria de conspiração. Vão confiar completamente em qualquer coisa que apareça que minimamente apoie a teoria, e vão descartar coisas opostas como simplesmente outra mentira.

Tem muito a ver, acho eu, com a questão de "grupos". É explicado que o ser humano é um animal social e que depende de um grupo para sobreviver. Quando um grupo se identifica com uma ideia fará de tudo para que mais pessoas comprem essa ideia pra reforçar sua razão e irão descartar qualquer hipótese contrária transformando oposicionistas em inimigos, concorrência. Uma outra culutra, modo de ver o mundo, uma verdade que destruirá a sua própria.

Thear escreveu:C) As redes socais prenderam as pessoas em bolhas. É provavelmente o maior motivo de teorias de conspiração (ate mesmo terraplanismo!), noticias falsas e polarização politica estarem se proliferando em plena ERA DA INFORMAÇÃO. As redes sociais selecionam o que você vê baseado no que sabem que você vai gostar e nos seus círculos sociais, assim garantindo que cada um receba um constante fluxo de posts e links que apenas reforcem os próprios vieses.
O pior é que esse é um tipo de problema que eu não sei bem como resolver... A melhor maneira seria através do sistema de educação (criar crianças que viriam a não se prender em bolhas tão facilmente), mas isso pode ser lento demais e ate la as pessoas "embolhadas" já podem ter feito um imenso estrago no sistema democrático. Outra opção seria as redes sociais pararem de embolhar as pessoas, mas não tenho muitas expectativas pra isso, é o modelo de negocio delas, afinal.


Hmm. Já repararam no quanto as pessoas gostam de negar o genocídio rohingya, que esta acontecendo nesse exato momento?

Acho que algo que eu pensei enquanto escrevia e quis chamar atenção aqui é que o ser humano já procura certas bolhas sociais mesmo sem a tecnologia. Isso é reforçado em relações de poder instituidas nas tradições, questões sociais hierarquicas, até mesmo produção de arte ou um bairro onde a pessoa se identifique mais com os vizinhos. A tecnologia potencializou demais tudo isso, mas não culpabilizo a tecnologia em si: ela é um reflexo de seus criadores apenas.

Desconheço tal genocídio. Me mande por MP
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Mensagem por Zé Joelho Sex 05 Jan 2018, 23:17

Sobre seu ponto C também, não é exatamente sobre educação (o que concordo que possa ser um caminho), mas sobre como o mundo nos molda e nós moldamos outras gerações:



Letra:
Oddisee - You Grew Up:
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Mensagem por Thear Sáb 06 Jan 2018, 08:06

Zé Joelho escreveu:Há um debate já antigo de Kant e outros filósofos que não tenho em minha cachola sobre a autoridade sobre a informação. Kant dividiu as categorias do conhecimento e basicamente disse "cada um com sua área de saber e o resto não se meta". Um Economista seria o único que devia ser ouvido e levado em conta quanto a questões de Economia pois o mesmo estudou e passou por uma instituição com tradição e meios para testar seus conhecimentos de acordo com os conhecimentos reunidos pela sociedade.

O que é debatido é até onde. Há questões que são complexas e acabam por abranger áreas humanas, artisticas e economicas, por exemplo, e deixar uma pessoa especializada em apenas uma área para decidir como agir ou entender tal questão é complicado. No meu entendimento esse debate existe até hoje. Não há uma segurança no saber do especializado ou na capacidade do(a) mesmo(a) de lidar com algo que aparentemente (ou não) fuja a sua alçada.

Na minha opinião sempre chegará uma hora que uma decisão terá de ser tomada - muitas vezes no meio político - e uma conversa de especialistas de diversas áreas para chegar-se a um consenso é a melhor opção com maior possibilidades de se acertar, pois, como qualquer decisão tomada, pode ser errada. O maior problema é que as pessoas querem ser especialistas em tudo; ou elas não querem ser vistas como ignorantes em algo.

Certamente os leigos tem o direito de opinar. Ate porque, no fim o que importa é a opinião mais bem argumentada e mais apoiada por evidencias e estudos. Se o vendedor de cachorro quente tem argumentos e evidencias melhores que o economista famoso, a opinião do vendedor deve prevalecer. Claro... os especialistas simplesmente tem mais chances de ter melhores argumentos e mais evidencias, mas pelo conhecimento que tem, não pelo titulo.

E concordo que quanto maior e mais importante a discussão, mais especialistas (e não especialistas), de diversas áreas devem ser envolvidos.

Zé Joelho escreveu:Acho que algo que eu pensei enquanto escrevia e quis chamar atenção aqui é que o ser humano já procura certas bolhas sociais mesmo sem a tecnologia. Isso é reforçado em relações de poder instituidas nas tradições, questões sociais hierarquicas, até mesmo produção de arte ou um bairro onde a pessoa se identifique mais com os vizinhos. A tecnologia potencializou demais tudo isso, mas não culpabilizo a tecnologia em si: ela é um reflexo de seus criadores apenas.

Claro. Não nego que as origens e o ambiente influenciam. O que quis dizer é que o sistema educacional poderia hipoteticamente ser preparado para imunizar parcialmente as pessoas contra essas bolhas e vieses. O sistema educacional deveria seriamente ensinar pensamento crítico, lógica e debate.
Com certeza não culpo a tecnologia, e sei que a sociedade como um todo já favorece essas bolhas, mas culpo sim, em parte, as redes sociais e seus algoritmos de seleção de conteúdo.

Gostei da música. Tu me perguntou em outra conversa se eu gosto de Rap... Eu considero que, pela maior parte, Rap é tão bom quanto sua letra. E essa é uma boa letra, ate pus a musica em minha playlist.


Sobre o genocídio rohingya... O governo de Myanmar esta faz vários anos perseguindo e massacrando a etnia rohingya. O fato dos perseguidores serem budistas e os perseguidos serem muçulmanos provavelmente colabora bastante em fazer as pessoas negarem o problema. Um pouco mais sobre nesse artigo da BBC.
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