Humanos são essenciais - Colonização interplanetária é essencial

Mudanças climáticas, efeito estufa, aquecimento global. Sim, sim, sim. Humanos estão causando um estrago.

Contaminação plástica incomensurável dos oceanos; desmatamento na área de países inteiros; a morte dos grandes recifes de corais; poluição química, luminosa, sonora e térmica... Extinção em massa. Na ficção, humanos são frequentemente comparados á pragas... parasitas que arruínam o hospedeiro. Em nossa ambição e busca incessante por lucro e consumo a curto prazo, a Terra é descartável.
Não é como se fosse um mero erro, e agora que estamos percebendo o problema estamos mudando. Não, vejam isso. O problema é conhecido faz muito tempo, a humanidade intencionalmente procrastinou o máximo que pode antes de começar a pensar no problema e em soluções. E ainda procrastina.

Mas acho que podemos mais ser considerados uma aposta pela eternidade. Pra começar, é muito, muito improvável que os humanos consigam extinguir toda a vida na Terra, exceto talvez se estivéssemos intencionalmente tentando com explosões nucleares bem distribuídas. Não existe nem garantia de que seriamos capazes de acidentalmente extinguir à nós mesmos. Todas as mudanças climáticas que estamos gerando tem potencial catastrófico, mas a vida terrena é extremamente resistente, e a própria humanidade é excepcionalmente adaptável. Apenas as piores das piores previsões de mudanças climáticas levariam a Terra a um cenário de Vênus.
O que estou querendo dizer é que não é garantido que a humanidade represente o fim da vida terrestre. Mas a ausência da humanidade representa exatamente isso.

Porque inevitavelmente o núcleo quente da Terra vai resfriar, ou o Sol vai expandir e fritar o planeta. O que quer que venha primeiro representará o fim definitivo da vida terrena. Pode levar mais uns bilhões de anos, mas vai acontecer. E se a humanidade não tiver se espalhado pelo espaço colonizando e terraformando outros planetas, isso será o fim de toda a vida que no momento conhecemos.

A humanidade seria capaz de proliferar toda a vida terrestre para outros planetas, ou ate mesmo de diretamente evacuar grande parte dos espécimes vivos da Terra quando a situação estiver ficando crítica.

Se o impacto do ser humano na natureza te incomoda, é porque você ou valoriza a continuidade da humanidade, que obviamente precisa da natureza; ou a continuidade da natureza que, quem diria, precisa da humanidade. Não importa qual sua motivação, você não pode desvalorizar a humanidade na equação.

Claro, temos que aprender a lidar com a natureza. Desenvolvimento sustentável e tudo mais. Coexistir com o resto da vida conhecida. As nações e corporações deveriam estar se esforçando muito mais para isso. O cenário ideal é coexistência... mas não faz sentido nos condenar e tratar como pragas enquanto não acharmos vida extraterrestre capaz de garantir a continuidade eterna da vida terrena em nosso lugar.



Ou isso, ou eventualmente as maquinas que criarmos vão ser capazes de fazer isso por nós. Aí talvez sejamos descartáveis, mas isso é toda uma outra discussão sobre a potencial obsolescência da humanidade.

Esse seu texto (que inclusive me foi bem interessante, Thear) me fez lembrar de um livro, que foi ressuscitado a uns 4 ou 5 anos, chamado O Gene Egoísta de Richard Dawkins onde ele debate ideias de outros autores e inclusive cunhe a palavra "meme" que utilizamos hoje em dia. O livro trata nossos genes como egoístas e os organismos (inclusive nós, obviamente) seríamos apenas um meio para que se preserve e perpetue esses genes; para que se repliquem e "evoluam" (ou adaptem). O gene então aprenderia maneiras de fazer com que seu hospedeiro tomasse atitudes que pudessem sobreviver (inclusive o desenvolvimento de inteligência e, dentro disso, as técnicas de caça, altruísmo para acasalar por exemplo, manter-se em grupos e etc).

Reduzindo a discussão apenas a essa ideia do Gene Egoísta, nem nós, os seres humanos, seríamos diferentes de veículos para a perpetuação desses códigos genéticos. Nosso desejo de vida eterna, nosso desejo de resolver questões que nos prejudiquem (como a morte e extinção e toda a raça humana). Inclusive na cultura pop muitos filmes, histórias e esteriótipos tratam a salvação de todo o planeta não porque as plantas são lindas, mas por causa dos humanos que nela vivem, pelas possibilidades de vidas e conquistas, feitos humanos. "Meme" seria esse gene egoísta dentro da cultura. A cultura, tal qual o humano, tem o desejo de reprodução e se agarra a existência.

Algo irônico fora as correntes ideológicas que faziam o contrário: entendiam o homem e a mulher como seres mortais, como "mais um ser vivo". Seja o niilismo ou o romantismo (que por vezes diminuía o humano diante de uma ideia), ambos revisitados e revividos de tempos em tempos (Rick and Morty, análises do youtube...). Tenho total noção que coloquei a discussão numa balança; entre extremos. Muitas vezes o bom senso do meio, do equilíbrio, é o mais indicado. Essa visão negativa niilista ou mesmo sofrega de setores da sociedade, em minha análise, são diretamente ligados aos paradigmas e sistemas em que nossas sociedades são presas: A busca por e manutenção de um controle social e hierarquico. Arrumamos diversas desculpas para dizer que somos melhores que outros (digo isso de maneira geral e genérica mesmo)

Só que mesmo o Gene Egoísta vem aprendendo que é necessário agir em grupo e aprender com o meio em que se vive, trocar com o estrangeiro, passar adiante e produzir mais conhecimento, se adaptar e mudar. O meme hoje é uma expressão quase crua disso; e mesmo a cultura aprende com erros e acertos. Há organismos que ainda preferem se agarrar a sistemas de subjugação pela facilidade de acesso a tal estratégia, porém o que impede desse DNA entender as ferramentas co-criadas com seus pares é a mesma que faz passar fome, que suja o mar, que acorrenta a vida a um planeta frágil (cosmicamente falando somos apenas uma rocha) e a mesma que faz um meme ser sem graça: A Ignorância - seja ela intencional ou não.

O que compõe DNA, além da Timina e seus primos e primas, é o conhecimento.

Quando alguém tenta de alguma forma diminuir a humanidade mais que o merecido, esta focando sua frustração no ponto errado.
Ao julgar negativamente a humanidade pela destruição que causa na natureza e contra seus próprios pares, esta agindo como se houvesse algum tipo de tribunal cósmico e tal pessoa fosse parte dela. Até onde sabemos, não existe tribunal cósmico. Não conhecemos nenhum extraterrestre que esteja disponível para nos qualificar pelos seus critérios de certo e errado. Isso significa que, ao julgar que a humanidade faz o errado ao cometer genocídio ou desmatar florestas, estaríamos admitindo que a humanidade considera, ao menos em certo nível (ou seja, uma certa parcela de nós), que que genocídio e desmatamento são errados.

A frustração com a humanidade que gera tal visão cínica sobre a mesma, portanto, é apenas uma frustração com nossa incapacidade de pensar mais racionalmente para conter nossos impulsos destrutivos instintivos. E não uma frustração com a totalidade da natureza humana contemporânea.